FREI HERMÍNIO BEZERRA OLIVEIRA, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 27
É algo inútil discutir regras de gramática, pois segundo Heinrich Cornélius Agripa *1486 †1534, elas são capricho dos gramáticos que legislam. Ele desafia: O melhorgramático latinonão será capaz de explicar logicamente, qual a razão do genitivo de Jupiter ser Jovi e não Jupiteris. (Como: Lucifer, luciferis = estrela da manhã: pulver, pulveris = pó;vésper, vesperis = noite (para César), tarde (p/ Cícero). (Cf. De Incertitudine et Vanitate Scientiarum (1529) = Tratado da Vaidade das Ciências).
A 1ª observação e crítica que eu faço é a autossuficiência e onipotência da Comissão. O texto da Comissão deveria ter sido enviado a Universidades, a Academias de Letras e estudiosos da língua, com solicitação de sugestões. E com certeza receberia boas e oportunas contribuições. O texto do Acordo Ortográfico tem limitações e inconsistências que poderiam ter sido evitadas.
A 2ª constatação é um lapso curioso da Comissão, na Base XVI, 1 a OBS: Não se usa hífen com os prefixos des- e in- quando o 2° elemento perdeu o “h” inicial.É curioso notar como ninguém na Comissão lembrou que o prefixo re- está incluído nesta norma, em palavras como: reabilitação, reabitação, reidratação e outras. Por isto, a consulta ao público interessado é muito importante.
A 3ª crítica é a criação de exceções injustificáveis por capricho da Comissão. No uso do hífen – o ponto mais confuso do Acordo – e será tratado na postagem 08. A Base XV, 6 diz: Nas locuções de qualquer tipo, – em que há um elemento de ligação como (de, da, com, que) – não se emprega o hífen. Exceto: água-de-colónia, arco-da-velha; cor-de-rosa, mais-que-perfeito; pé-de-meia… A razão dada: “sãoexceções já consagradas pelo uso”. Como “exceções” já consagradas, se são exceções que eles criaram? Expressões consagradas iguais a estas, elevadas a exceções, o leitor lembra facilmente: lua de mel, guia de cego, leva e traz, língua de trapos, mão de vaca, olho de sogra, pai dos burros, pé de moleque, queda de braço, véu de noiva, vira e mexe…
A 5ª dolorosa lamentação é a eliminação do trema no português, (Base XIV). O termo é grego: τρῆμα = ponto. Consta de dois pontos postos em cima de uma vogal. A vogal tremada deve ser pronunciada separada e distintamente, pois ela não faz ditongo com a vogal ao lado. O trema é importante no português? Sim, pois sem ele, muitos pronunciam erradamente numerosas palavras. Exemplo: aghentar, akífero, bilínghe, caghetar, delinkente, ekestre, elokente, frekente, inikidade, kinkênio, kiproquó, linghiça, sanghinário, sekela, sekestro, trankilo, unilínghe… Sem o trema numerosas palavras serão deturpadas e até ficarão irreconhecíveis.
FREI HERMÍNIO BEZERRA OLIVEIRA, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 27
INFORMAÇÃO PRELIMINAR
Com tantos problemas que já temos, o assunto Acordo Ortográfico torna-se secundário. Mas tem o seu valor. Por isso, a ACLP abre espaço para uma série de 10 postagens, abordando o assunto de modo sucinto, claro e objetivo.
Será apresentado o essencial do Acordo: pontos obscuros, as dificuldades, o fracasso no seu objetivo principal, que era unificar a língua na sua grafia, em todos os países em que ela é a língua oficial.
Roteiro dos assuntos a serem abordados:
01 – Informação Histórica sobre o português – Os três Acordos 02 – Divergências e omissões do Acordo Ortográfico 03 – A confusão criada com grafias diversas 04 – Acento duplo opcional 05 – A Grafia dupla opcional e suas contradições 06 – Termos advindos da mesma raiz com exceções 07 – A confusão no uso do hífen 08 – Palavras que podem vir a ser escritas com k, w, y 09 – Diferenças entre o VOLP de Portugal e o do Brasil 10 – Erros, limitações e palavras que faltam no VOLP.
Estas postagens são elaboradas por Frei Hermínio Bezerra de Oliveira, membro desta Academia, com supervisão do jornalista Zacharias Bezerra de Oliveira, da Academia de Letras de Crateús. Email para observações: freiherkol@yahoo.com.br
AS FONTES USADAS:
OLIVEIRA, Frei Hermínio Bezerra de, e Zacharias Bezerra de – Acordo Ortográfico daLíngua Portuguesa. Editora Expressão Gráfica, Fortaleza, 2009
_________, Frei Hermínio Bezerra de, e Zacharias Bezerra de Acordo Ortográfico – Vocabulário das PalavrasModificadas. Edi. Armazém da Cultura, Fortaleza, 2012.
GALVÃO, Ramiz, Vocabulário Etimológico da Língua Portuguesa, Livraria Garnier, Rio de Janeiro, 1994.
VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Editora Global, 5ª edição- São Paulo, 2009.
VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Editora Porto, (Porto) Portugal, 2009.
INFORMAÇÃO HISTÓRICA SOBRE O PORTUGUÊS
Portugal teve seu início, como povo, em 1139, com o pequeno Condado – região administrada por um Conde – com dois povoados: Porto e Coimbra. O início da língua portuguesa deu-se por volta de 1189, segundo Carolina Michaelis. Nossa língua é oriunda do galego, língua da Galícia. A etimologia mostra que 80% de nossas palavras vêm do latim, 16% do grego e 4% de outras línguas: sânscrito, gótico, árabe, provençal, espanhol, tupi, bantu, ioruba, hebreu, alemão, francês, inglês, italiano, holandês…
Até 1400 nossos documentos oficiais eram escritos em latim popular. Foi Fernão de Oliveira quem, em 1536 fez a primeira Grammatica de Lingoagem Portogueza. Passaram-se séculos sem que se cuidasse de organizar normas relativas à escrita e à pronúncia. Somente em 1904, o português Aniceto dos Reis G. Viana lançou o livro: Ortografia Nacional, onde ele propõeque se organize a grafia pela pronúncia e não pela etimologia. Assim se eliminam ou grupos: ll, ph, rh, th… de origem latina e grega.
A Academia Brasileira de Letras, fundada em 1897, criou uma resolução concernente às publicações oficiais, em 1907, com 09 pontos, seguindo a etimologia. Em 1911, Portugal organizou uma série de normas, conforme a proposta de Aniceto dos Reis, seguindo a eufonia. O Brasil recebeu estas normas com relutância, e só adotou-as em 1915. Pressões da Academia Brasileira de Letras e de Universidades levaram o governo a abolir estas normas em 1919.
OS ACORDOS ORTOGRÁFICOS
I Acordo – A partir de 1929 foi criada uma Comissão luso-brasileira para criar normas para o uso da língua portuguesa em todos os países lusófonos. O Acordo foi selado em 1931. Este Acordo basicamente adotou a proposta de Aniceto dos Reis com normas privilegiando a eufonia, além de eliminar do alfabeto as letras: k, w, y. Em 1932 ocorreu a Revolução Constitucionalista e a Constituição de 1934 determinou que a ortografia do português no Brasil fosse a da Constituição de 1891. Com isso voltamos à grafia de 1891 com as normas propostas pela ABL em 1907.
II Acordo – No início de 1940 Portugal e Brasil criaram uma Comissão para elaborar normas para um Acordo Ortográfico. Após longas discussões o Acordo de 1945, teve um impasse, pois o grupo do Brasil, antes adepto de uma organização pela etimologia = escreverconforme a origem das palavras, passou a dar prioridade à eufonia = escrever conforme se fala e Portugal antes adepto da organização pela eufonia passou a priorizar a etimologia. Esta dificuldade foi resolvida aceitando-se palavras com dupla grafia e com duplo acento, opcionais. Assim, o Acordo que pretendia unificar, dividiu, criando as línguas: português e brasileiro.
III Acordo – No final da década de 1980 – pela 3ª vez – criou-se uma Comissão para a unificação da língua portuguesa. Dessa vez com a participação de 7 dos 8 países lusófonos, fora Timor Leste. O Acordo foi selado em 1990. Com XXI Bases, com 162 normas, sendo 141 delas, normas do II Acordo. Como novidades temos: a) a inclusão acertada em nosso alfabeto das letras k, w, y (retiradas em 1931); b) a lamentável abolição do trema, coisa que Portugal já tinha feito em 1945; c) a confirmação do acento e da grafia duplos, que confirmam o fracasso no objetivo do Acordo Ortográfico, aunificação da língua portuguesa.
VIANNEY MESQUITA, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 37
Podemos convencer os outros com as nossas razões, porém somente os persuadimos com os motivos deles. JOSEPH JOUBERT. (*Montignac, 05.05.1754 – + Villeneuve-sur-Yonne, 04.05.1824).
Durante certo tempo em que o cratense Anselmo de Albuquerque Frazão, convidado pelo reitor Antônio Martins Filho, dirigia um dos órgãos suplementares da U.F.C. – a Imprensa Universitária – trabalhavam no ateliê de desenho da Casa os profissionais Assis Martins (cronista assíduo), Elísio Cartaxo, José Raimundo Monte – o Büí (falecido em acidente de motocicleta), e o Brás, este cujo nome completo me escapole da lembrança, já meio enfastiada de tanta solicitação.
Também militava ali, como parte de sua ação acadêmica, o Professor Geraldo Jesuino da Costa, acadêmico titular de três sodalícios do Ceará, ao chefiar a edição gráfica das revistas da Instituição, editar o JornalUniversitário (para o qual escrevíamos, também, eu e o Professor Ítalo Gurgel) desde o tempo do reitor Professor Paulo Elpídio de Meneses Neto, orientar seus estudantes na disciplina Editoração, ministrada para o Curso de Comunicação Social, bem assim desenvolver outras ações paralelas e afins. Posteriormente, sob os reitores Professor Antônio de Albuquerque Sousa Filho e Roberto Cláudio Frota Bezerra, exerceu por 12 anos múnus como Diretor da então excepcional Casa Publicadora, a qual, hoje, porque os órgãos de controle do País não permitem, está semelhante a peito em homem e ao “H” da Brahma: não serve para coisíssima nenhuma!
A tantos artesãos de uma arte maior, adiciono a incomparável figura do Alberon Soares, pintor e gravador da melhor felpa, muito recentemente desaparecido, cujos inteligentes e espirituosos chistes o faziam admirado ainda mais por parte de quem o conhecia, ajuntando-os, em complemento, aos seus dotes de artista das telas e gráfico a mancheias, antes das grandes fulgurações da Informática, divisora da já envelhecida taxinomia das Artes Gráficas em duas grandes fases diametralmente opostas – antes e depois do computador.
Esse pugilo de grandes artistas, pois, quase diariamente era engrandecido pela comparência do Prof. Dr. José Liberal de Castro, da vizinha Arquitetura, onde entrava na discussão do futebol, rememorava as estórias engraçadas da Universidade e relatava, quase sempre com muita pimenta, os registos valiosíssimos do seu recheio casuístico, minucioso ao extremo.
Jamais me esqueço de uma vez ter ouvido do Alberon o fato de ele haver lido o convite para os 15 anos da Rosa Frazão – sobrinha do Anselmo, que também trabalhava da IU e não era mais essa juventude toda – reproduzido na seção O Povo há 50 Anos, mantida no periódico de Demócrito Rocha e Paulo Sarasate; dizia ter sido ela a bibliotecária que normalizou o Código de Hamurabi e amanuense redatora da ata da Ceia Larga, a qual, embora não tenha assistido ao dilúvio, pisou na sua lama.
Frazão é homem reto, verdadeiro, autêntico, sem evasivas enganosas nem justificativas matreiras, porém, às vezes, como marca de sua personalidade, meio ríspido, mas de uma severidade que termina na graça, resvala para o gracejo. Há pouco tempo, saía da Agência do Banco do Brasil da Reitoria, muito sério, reclamando das máquinas do Estabelecimento, que apenas soltavam dinheiro para quem tivesse saldo…
Conta, ainda, a canalha da UDN – nisto não acredito – ele haver indicado para um amigo, em viagem ao Rio de Janeiro, hospedar-se no “Hotel Zero Quilômetro”, na Rua Senador Dantas, 24 – Cinelândia. Nada menos do que o Hotel OK.
A proeminência destas linhas está, porém, neste fato derradeiro. Cuida-se do caso das férias concomitantes, ordenadas pelo Frazão, de Assis Martins, Elísio Cartaxo e Büí, deixando o Brás sozinho no ateliê, fato que a este aborreceu por demais. No segundo ou terceiro dia do isolamento do Brás, o Frazão adentrou a sala, desejou “bom dia”, sem resposta do funcionário. Tentou, outra vez debalde, entabular conversa.
Então, Frazão pensou consigo: “Tem mouro na costa”!
Indagou, pois: – o que está acontecendo, rapaz?
– Seu Frazão, como o senhor me faz essa maldade de me deixar aqui sozinho, com tanto trabalho, isolado! Faz medo até alma!
– O que isso, Brás! A gente pensa que faz um giro e faz é jirau! Olhe: pelo fato de não ter direito ainda a férias, quis deixar você sozinho, por vários motivos: não tem quem lhe encha o saco; seu café é servido ligeiro, porque não tem outras pessoas; você pode cantar e assobiar à vontade, sem atrapalhar ninguém. Por fim, você pode até soltar um p.., que não há quem diga que foi você. Além do mais, o mau cheiro é somente seu…
A festa de confraternização que, anualmente, reúne os membros da Academia Cearense da Língua Portuguesa realizou-se, no último dia 17, em ambiente virtual, com expressiva participação dos acadêmicos. O Presidente da ACLP, Prof. Marcelo Braga, comandou o encontro, abrindo espaço para que todos lessem uma mensagem ou expressassem de outra forma seus sentimentos, nesse momento em que, afrontando terrível pandemia, o mundo cristão celebra, com grande esperança, mais um Natal.
O próprio Prof. Marcelo se somou às manifestações de júbilo e resiliência cantando uma canção. Posteriormente, ele transmitiu aos companheiros uma mensagem de agradecimento: “Parabenizo a todos pelo Natal de nossa ACLP. Foi um momento espontâneo, intimista, fraterno e alegre. O sentimento de pertencimento tomou conta de nós. Estávamos próximos, mesmo distantes fisicamente. Cada um com seu jeito especial, sua singularidade, preencheu nosso universo afetivo de significado cristão. Os ausentes se fizeram presentes no cenário de abraços virtuais. Feliz Natal para todos que compõem a canção da Língua Portuguesa da ACLP”.
Seguem-se os textos apresentados na
reunião de 17/12:
Natal 2020
Batista de Lima – Cadeira nº 36
Que este natal seja de ventura, sonhos e leituras. Pode vir
até com os severinos cabralinos, mas sem esquecer, no entanto, alguns adjetivos
suaves e até metáforas pomposas que falem de um menino que nasceu em Belém.
Pode vir com a tosse do Bandeira mas sem esquecer meu carneiro jasmim que nunca
se esqueceu de mim lá do rebanho do Barros Pinho. Que venha na garupa palustre
e bela da vaca estrela o seu companheiro o boi fubá, patativando aquele
alagoano de Lima na sua reinvenção de Orfeu. Que as veredas atravessem os
sertões de Rosa, desbravando rios que sejam baldos, mas sem a dor e sem o diabo
em mim, Diadorim!
Neste Natal se não quintanares um gaúcho passarinheiro, te
acertarei com fios de ovos, clariceando o bacamarte de Maria Moura no Tatu de
Fideralina, com muita malassada e pão-de-ló.
Neste Natal vamos aos verdes mares bravios de nossa terra
querida, vamos visitar a loura que o sol desposou e agora procura a sombra de
um cajueiro pequenino carregadinho de flor para descanso do seu cansaço.
Que este natal não seja só da praça, mas que invada quintais, canteiros, cantares e altares. Que gingobelle do Meireles à Sapiranga, do Alphaville ao Araturi, da Aldeota à Urucutuba. Mas não esqueçam o sinal vermelho nem aquela figura que atravessa a rua vestida de Papai Noel. Afinal ali vai Jesus tristinho de máscara e álcool gel, com um saco pesado às costas, com os presentes de que mais precisamos: saúde, paz, felicidade e fraternidade, pão na mesa e amor no coração. Que as sementes do natal invadam nossos corações e germinem carregadas de paz, amor e felicidade. Feliz natal para todos. Amém.
Mensagem de Natal à ACLP
Frei Hermínio Bezerra de Oliveira – Cadeira nº 27
Um filósofo contou que um grupo de pensadores ateus tentou
planejar um mundo sem Deus e sem leis. Depois de longa discussão concluíram:
sem Deus sim, mas sem leis, não! Seria o caos. Foram elaborar as leis
básicas e, ao chegar na oitava lei, eles constataram que já tinham seis dos
mandamentos da lei de Moisés.
O historiador hebreu Yuval Harari Yoak dá uma definição laica
de religião como: “Um sistema de normas e valores humanos, que se baseia na
crença em uma ordem sobrenatural ou sobre humana”. É claro que a prática
religiosa não é importada diretamente do céu. Inspirada por Deus – para os que
creem – ela passou por longo período de elaboração na comunidade e sempre teve
“aggiornamento” = atualização.
Jean-Paul Sartre (*1905 †1980) filósofo, ateu e anarquista,
era engajado pelo direito e pela ética. Ao morrer deixou um manuscrito de 2000
pp. “Cahiers pour une Morale”, (Gallimard, 1983), que acaba de ser traduzido em
português, por Eliana Sales Paiva, profa. de Filosofia da UECE. Nele, Sartre
afirma: “O homem não crê, ele acredita que crê!” (CPM, 154) E ainda: “O
ser humano é condenado a ser livre!” (CPM, 447) Ele considera a liberdade,
um peso enorme para o ser humano. Mas é pela liberdade que nossos atos têm seu
valor. Ele considera que a moral é possível, mas ela exige do ser humano, um
ato contínuo de conversão.
Neste tempo do Advento, em que nós cristãos nos preparamos
para celebrar o Natal do Senhor. Os textos litúrgicos falam do fim do mundo
criado e de vigilância. A liturgia insiste na “conversão”. Este termo,
na navegação significa: “mudança de rota”, na ascese “mudança de vida, de
comportamento, de atitude”. Para tanto, todos nós devemos “rever” e “prever”.
Rever o ano sainte e prever o ano entrante, com possíveis mudanças e talvez
“correção de rota”, em nossa vida.
O Natal é a celebração do nascimento de Cristo. Ele se
encarnou para morrer na cruz e nos dar a oportunidade da salvação. Por sua
morte, cada um de nós pode obter a salvação. Mas nós temos de fazer a nossa
parte. Cristo – com a sua morte – não nos salva compulsoriamente. Santo
Agostinho nos adverte: Qui creavit te, sine te, non salvabit te, sine te! =
Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti!
Nosso Papa Francisco – mestre em ensinamentos pontuais – nos
adverte: “Não sejamos cristãos ritualistas, mas amemos de verdade!” Com
frase simples ele chama atenção para o fato de que há cristãos preocupados com
ritos. Jesus diz: “Nem todo aquele que diz: Senhor, Senhor, entrará no reino
dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu pai” (Mt 7,21). Dizer Senhor,
Senhor é repetir amiúde ritos, orações e louvores… tendo isto como o
essencial, sem dar atenção à caridade, às obras de misericórdia para com o
outro e aos atos concretos de amor.
Sigamos o conselho de São Paulo: “Ergo, dum tempus habemus, operemur bonum ad omnes” = Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos. (Gl 6,10).
Natal nordestino
(Ao Papa Francisco e ao Padre Cícero)
Italo Gurgel – Cadeira nº 17
Quero um Natal sem barbas ou sentimentos postiços, Sem falsa neve caindo do céu tropical E sem a falsa alegria De papais noéis adiposos.
Quero um Natal de luzes lamparinas Alumiando preces sertanejas. Quero o silêncio dos jingobéus adocicados Para ouvir as rabecas em oração.
Quero um Natal como Ele quis: Sem mãos estendidas nas esquinas E sem a cusparada da opulência No rosto dos deserdados.
Quero o Natal festejado em Vaticano de taipa, Sem faustos, tapetes ou dosséis, Como era, no tempo da estrela guia, A casa de José – a casa e a marcenaria.
Quero um Natal sem mantos dourados, Mas também sem trapos nem farrapos, Sem balas nem crianças perdidas Nas esquinas do crack e da miséria.
Quero um Natal sem o preconceito Que corrói o coração dos ignaros. Quero um Natal nordestino, aberto a todos os abraços, Um Natal francisco, como Francisco, certamente, sempre quis.
Que boa nova Ele nos trouxe?
Raimundo Holanda – Cadeira nº 22
A
igreja celebra o advento, do latim, “adventus”, ou seja, aquele que está por
vir. É um período de espera em alguém muito importante. Quem é esse alguém? A
história desse alguém começa assim:
Um
anjo anuncia a Maria que ela há de dar à luz a uma criança. A jovem espanta-se.
E o anjo:
–
Não temas, será um menino, que deverá receber o nome de Jesus. E o anjo
prossegue:
–
Bendita és tu, entre as mulheres, e bendito é o fruto que nascerá de ti e este
fruto chamar-se-á Jesus. E Maria:
–
Eis a serva do Senhor, faça-se conforme deseja o Pai. E ela:
–
“Magnificat anima mea dominus”. Minha alma exulta ao Senhor.
Hoje
é Natal. Festeja-se o nascimento de uma criança tão esperada. O berço foi uma
manjedoura. Quantas crianças nascem sem agasalhos, muitas delas abandonadas.
Outras, cujas mães não lhes amamentam, porque os seios estão vazios. Nas
periferias das cidades, principalmente, e Fortaleza não se exclui, tem-se
notícias de crianças abandonadas em saco de lixo, vitimas de bala perdida;
vítimas de estupros. Neste momento nos confraternizamos, trocamos presentes,
símbolos de fraternidade que há entre nós.
Que lições para nossa vida o Natal nos traz?
Neste
momento, nossas residências enchem-se de luz. Nasce uma criança que se tornou
um de nós, e veio com a missão de nos pregar a boa nova. Para Ela entoamos
hinos de louvor e de embalo:
“Eis
na lapa, Jesus nosso bem/dorme em paz, ó Jesus”.
Que boa nova Ele nos trouxe? Veio com a missão de tocar nossos corações. Daí Ele ter dito que o seu reino não é deste mundo.
Ao
nascer em uma manjedoura, nos trouxe ensinamentos de humildade, de desapego ao
luxo. Ele tornou-se um de nós, para firmar uma eterna amizade. Sua mensagem
resume-se nesta palavra: AMOR.
Encerro
esta mensagem transcrevendo as sábias palavras de São Paulo e do Papa Francisco:
“Ainda
que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse AMOR, seria como
o metal que soa ou como o sino que tine” (São Paulo).
“O poder deste menino, filho de Deus e de Maria, não é o poder deste mundo, baseado na força e na riqueza; é o poder do AMOR” . (Papa Francisco).
Oração retrospectiva 2020 – o conto de um ano difícil
Gorete Oliveira – Cadeira nº 1
O ano está indo embora. Resta-lhe
pouco menos de quinze dias. Tenho pensado muito numa forma de agradecer a Deus.
Queria ter um jeito bonito de agradecer a Deus! No retrospecto que fiz, do réveillon até aqui, o espinho foi
um só – o mesmo que nos aflige desde Sísifo – as dores foram muitas, mas aqui
estou. Sobrevivi. As lágrimas vêm fortes, e a emoção me toca o coração quando a
“fita” diante dos meus olhos relembra os momentos de quando eu em quedas
emocionais, e Deus, a exemplo, do que fez na oração Pegadas na Areia, carregou-me no colo e colocou-me de pé em outro
ponto do caminho. Obrigada, Senhor, por levantar-me! Desse outro ponto que Deus
aumentou no meu conto, viria eu a fazer, refazer e contar outros tantos contos
com os pontos que a costura do dia a dia me permitiu aumentar. É que um ano não
é um engano ou desengano. Um ano é a soma dos resultados das nossas interações
e contracenações. Ações nossas sobre os outros; ações dos outros sobre nós. A
fita segue. E depois que atravessei a areia quente nos braços de Deus, estou
aqui, forte, com saúde, neste quase Natal, dimensionando os passos. O ano foi
também um ano de realizações. Obrigada, Senhor, pelas recompensas! E estas
estão no meu próprio corpo. Obrigada, Senhor, pelos meus pés, que me levaram para
longe de depressões em que eu poderia cair, mas não caí, e me conservaram no
caminho da retidão, que sempre escolhi para andar; obrigada, Senhor, pela minha
cabeça, que em momento algum produziu qualquer pensamento que não fosse justo,
bom ou correto, mesmo quando as dores e as dificuldades me turvavam as ideias,
e por ter tido a capacidade de estudar muito para realizar mais; obrigada
Senhor, por minhas mãos porque foram hábeis em escrever bastante e continuam
escrevendo muitas coisas que poderão mudar positivamente a vida de muita gente;
obrigada, Senhor, por meu corpo inteiro, que nunca faltou a nenhum compromisso,
não desfalcou nenhum grupo, conjunto ou equipe de trabalho, não deixou nenhuma
aula vaga, não deixou ninguém esperando em vão, não deixou de atender ou ajudar
a quem de mim precisou, não negou nenhum abraço; obrigada, especialmente,
Senhor, por meu coração, que sempre dedicou meus atos e feitos a Ti, como um
louvor! E agora, neste exato momento, agradeço-Te, Senhor, por minhas palavras,
que sempre foram pródigas em desejar o bem para as pessoas, em falar de paz,
falar como extensão de uma conduta pacífica. E, como vem aí 2021, que ele venha
tal qual uma revoada de pombas brancas para todos os que fazem parte do mundo
do meu coração: minha família, meus colegas, meus amigos e amigas, meus alunos
e alunas, meus confrades e confreiras. Sou-te, Senhor, agradecida, por todos
nós que conseguimos chegar até aqui sem sermos ceifados pela terrível pandemia
que a tantos roubou o ar, até não poderem mais respirar, e deixarem para sempre
esta vida, partindo
desesperadamente em busca do oxigênio da
eternidade. Sou, ainda, grata pelas luzes da ciência, que acenam para o mundo
uma esperança a mais em forma de vacina. Glória, Senhor, por estarmos juntos,
em expectativa, rezando pelo novo ano que se avizinha!
Já se encontra em oferta no mercado
livreiro virtual, em formato eBook, o livro “Português e algo mais para o dia a
dia”, do acadêmico Myrson Lima, ocupante da cadeira nº 14 da Academia Cearense
da Língua Portuguesa, uma das principais referências do ensino do português em
nosso País. O autor de “O essencial do português”, que atingiu oito edições e agora se
encontra esgotado, traz agora uma obra extremamente prática e didática, que
visa oferecer a professores, alunos, vestibulandos, candidatos a concursos e
estudiosos do idioma um conteúdo sólido, confiável, com especial preocupação de
atualizar conhecimentos ante as novidades da última reforma ortográfica.
O livro é fruto da longa experiência do Prof. Myrson em sala
de aula e de contínuas pesquisas e leituras. No prefácio, o acadêmico Tarcísio
Cavalcante (cadeira nº 35 da ACLP) destaca que, com esse novo trabalho, Myrson
oferece “uma exposição clara, precisa dos fatos gramaticais da língua,
destinados a todos os que desejam adquirir os conhecimentos necessários à
prática de falar e escrever corretamente, ou seja, de acordo com a norma-padrão”
do Português. Segundo ele, o livro atende aos três requisitos essenciais que se
exigem de toda obra didática: é escrito em linguagem pura, traz ótimas
explicações e exemplificações, e a exposição da matéria é feita metodicamente,
em ordem alfabética, como em um dicionário.
VIANNEY MESQUITA, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 37
Oh, morte, como é amara tua lembrança, como rápida é tua vinda, como são ocultos os teus caminhos, como é duvidosa tua honra, e como é universal teu domínio! (Frei Luís de Granada. * Granada, 1505; Lisboa, 1588 23 anos!).
1 TANATOLOGIA – Vida e
Morte no Dia a Dia
Por via da
tradição, talvez religiosa cristã e no decurso dos tempos, eram praticamente proibidas
na cultura do Ocidente reflexões atinentes a este tão natural fenômeno do
decesso corporal, trânsito anímico, trespasse, exício da vida, antônimo
perfeito do nascimento, verdade implacável. Morte.
Tema eivado
de tanto preconceito, matéria a que se atribui, ainda, caráter de interdito,
hoje o assunto perde, a pouco e pouco, seu mistério e é concertado, com
frequência, em várias ocasiões e diversos lugares, mormente na ambiência
universitária, onde se examinam com profundidade a origem, produção,
conservação, repasse e progresso do conhecimento na sua mais extensiva
amplitude temática.
O argumento
do ocaso vital, evento imprescritível para aquele que viu aparecer a luz,
mostra inexoravelmente sua extinção, cedo ou tarde, normalmente ou de inopino,
por caducidade natural ou morbidade, ao nos fazer divisar, entre o ser extinto
e o vivo, a mesma diferença entre a matéria bruta e a substância ativa.
Diversamente
dos fatos ocorrentes nos organismos unicelulares, nos quais não há,
necessariamente, fatalidade, a morte dos seres complexos é consequência
inevitável da maquinaria anímica, a qual, ajuntando nos tecidos produtos
acessórios, lentamente destrui a energia dos aparelhos até a supressão total.
A fim de
conduzir esta reflexão ao patamar da naturalidade dos tratos mais ordinários –
como os relativos à vida e à ciência – a sociedade inteligente descortinou uma
teoria ordenada no tocante à morte, suas causas e eventos, especialmente o
estudo dos mecanismos psicológicos empregados para superar os efeitos do
fenômeno nas mentes de quem prossegue ou está na iminência de finar-se.
Amparadas
nas conjecturas da Tanatologia, sub-ramo científico da Psicologia, as equipes
de saúde desenvolvem, diuturnamente, em nosocômios de todo o Mundo, esse
custoso ofício/arte de conceder refrigério, transpondo o corpo doente, prestes
a consumir-se, e dedicando auxílio e conforto às almas atormentadas pela
proximidade do próprio fim ou martirizadas com a imediação do termo existencial
de uma pessoa dileta.
Convergindo
à regular quantidade de trabalhos literoacadêmicos referentes a este moto de
ascensa relevância, no Brasil, e de indescartável aplicação prática, em
particular nos hospitais, os professores Annatália Gomes e Erasmo Ruiz Miessa escreveram
um livro oportuníssimo, no qual reflexionam, com esmerado preparo e zelo, sobre
a relação correta a ser estabelecida entre os profissionais de saúde e os
doentes de quem cuidam holisticamente, em especial os enfermos de moléstias em
quadro terminal, numa demonstração cabal dos aprestos intelectuais e do desvelo
humanitário de ambos, ora ao bom serviço dos seus pares.
A obra Vida e Morte no Cotidiano (EdUECE)– reflexões com o profissional de saúde – constitui aditamento
valioso à literatura nacional do gênero, razão por que há de ser adotado nos
diversos programas universitários de graduação, mestrado e doutorado, onde se
estuda a analogia vida-morte, bem assim na formação em serviço do pessoal dos
hospitais e congêneres.
Seus consulentes terão neste volume o romaneio correto e seguro para o desempenho de suas nobilitantes ações de intermediação paciente/doença grave, extensivamente aos seus componentes familiares, cujo padecimento à beira do leito será sensivelmente mitigado com a recepção das ideias aqui veiculadas, magnificamente expressas.
Da morte a férrea lei não se derroga./ Nas páginas fatais é tudo eterno! O que se escreve ali jamais se risca. (Manuel Maria Barbosa Du BOCAGE. *Setubal, 1765-+1805).
2 ODRAMADOPACIENTETERMINAL
A literatura, recorrentes
vezes, recomenda-nos certas cautelas para que, ante a excessiva especialização
dos conhecimentos, não percamos de vista as grandes conexões da ciência. De tal
sorte, a interdisciplinaridade é praticada sempre mais pelos compositores do
saber novo, o que significa o aporte dos melhores resultados, devolvendo às
ideias parcialmente unificadas pela ciência o caráter de horizontalidade.
O ideário
científico, de efeito, sejam quais forem as vertentes e taxinomias, opera
constantemente sob relações e a consorciação de saberes é natural no decurso
investigativo em demanda à certeza relativa, consoante orienta a Filosofia da
Ciência.
Dessa maneira, compreensões aliadas são, muita vez, necessárias para realização de novéis sub-ramos da indústria humana, como ocorre, verbi gratia, com Bioestatística, Fisico-Química, Sociologia Jurídica, Economia Política, Jusfilosofia, Biônica e tantas outras comunhões de interesses metodológicos a servirem às causas epistemológicas.
Na linha raciocinativa deste ensaio de apreciável força de pesquisa, da autoria da Professora Doutora Preciliana Barreto de Morais, ela se favoreceu da Ciência de Augusto Comte (*Montpellier, 19.01.1798; +Paris, 05.09.1857), bem como de saberes correlatos, para interpretar, ao lume da dita Sociologia, situações extremas de clientes portadores de males terminais, sob os cuidados das equipes multiprofissionais, nos leitos e, na crescente falta destes, até em macas e cadeiras, no desconforto final da vida no interior e umbrais das casas de saúde.
Pungente e contagiante é a dor de quem guarda a certeza de que se vai dentro em pouco. Preocupantes as dúvidas e impasses daqueles a quem se cometeu a tarefa de cuidar dos pacientes acometidos de moléstias, a maioria das quais a Medicina ainda não controlou, como certas síndromes e alguns cânceres.
Há, decerto, falhas de comunicação das equipes, particularmente em virtude de formações defeituosas. “Os livros somente ensinam sobre o comportamento do tumor” – queixa-se um sextanista, que remata: “E a conduta psicológica do doente?”
Faltam, na escolaridade e prática funcional de psicólogos, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas e outros agentes do cuidado, informações relevantes de natureza interdisciplinar, quando não para a reabilitação impossível, pelo menos na direção de abreviar o transe ou diferir a vida por algum tempo.
Evidentemente, enquanto perdurar esta situação – configurada no fim da existência dos pacientes, vacilações e embaraços das equipes multifuncionais, sujeitos da pesquisa da Autora – esses clientes vão prosperar como atores na ribalta da tragédia. O livro de Preciliana de Morais – atual docente da Universidade Estadual do Ceará – constitui libelo responsável e claro ao sistema educacional e de atenção à saúde no País, sendo, por este pretexto, fonte de fé para alicerçar investigações similares e embasar novas e urgentes políticas públicas para o setor.
… Por isso, oh Morte! Eu amo-te e não temo./ Por isso, oh Morte, eu quero-te comigo./Leva-me à região da paz horrenda!/Leva-me ao Nada, leva-me contigo! (Luiz José de JUNQUEIRA FREIRE. *Salvador, 31.12.1832; +24.6.1855 – 23 anos!).
3PACIENTEMUITOESPECIAL
Resulta deveras
compensador o fato de se exercitar constantemente a observação, para dar asas
ao talento criador.
Das atividades seculares do espírito, a que mais enleia parece ser a boa leitura, que possibilita a produção de um escrito escorreito, de uma alocução bem concatenada, porquanto vazada em códigos precisos e significações perfeitamente arrazoadas.
Somente a prática dial do exame atento sobre as coisas, bem como o adjutório da ação de ler – sem o que a observação fica limitada – são suficientes para se estabelecer uma mensagem límpida, sem vieses nem ruídos, decomponível com a máxima lucidez por quem a recebe.
Obviamente, há estruturas textuais bem mais leves e fáceis, acessíveis a maior quantidade de pessoas, nomeadamente os esquemas verbais constituídos com suporte na opinião comum. Até aqui, a langue e a parole saussureanas correm mais livres, obedientes apenas às muitas regras da Língua Portuguesa. (Ferdinand Saussure – *Genebra, 26.11.1857; + Morges, 22.02.1913).
A situação começa a complicar, porém, quando se joga com a certeza relativa do fato científico, não raro se misturando – em sua manifestação oral ou grafada – com as elucubrações espirituais, a fim de dar conformação ao estilo. Mais complexo, ainda, se configura o texto (ou a fala), se a manifestação da verdade científica disser respeito às relações Homem/Natureza. O embaraço se proporciona, consideravelmente, se este Ser for criança, e caso a criança seja doente, e essa moléstia tenha gravidade, dolorosíssima, fatal, óbito iminente …
O Mundo e a História, entretanto, estão cheios de artistas que receberam o dom evangélico e o sopro paráclito da escrita, com incidência menor da dificuldade de estruturação. Eis que, no livro sob escólio, dá-se o caso de uma socióloga, com a função principal de pequena empresária, que achou de estudar a freguesia de instituição especial – a Casa do Menino Jesus, em Fortaleza-CE, cujos clientes se acham em várias fases de C.A.
Rossana Guabiraba discorre sobre o meritório trajeto de acompanhamento dos pequenos enfermos, em texto deveras comovente, haja vista as condições dos sujeitos em relação na sua pesquisa de cunho acadêmico. Entre outras recomendações de ordem humana e humanitária, a Autora indica encarecidamente aos leitores a necessidade de se procurar conhecer os estertores e consequências da morte, a fim de que o transe do cliente e dos circunstantes seja abrandado com o aceite da realidade, abraçando a resignação ante um sucesso irrecorrente.
Nesse poema de amor amplo e celeste – lembrando o simbolismo poético de Alphonsus de Guimaraens (Ouro Preto, 24.07.1870; Mariana, 15.07.1921) – Rossana alcançou a composição de um escrito claro e correto, de leitura cristalina, no qual impôs o vigor de pesquisadora, estruturando-o teoricamente com especialistas acreditados perante a comunidade investigadora de temas afins, com a vantagem de haver evitado compromisso com as desproporções da tanatologia esotérica, não científica, a qual transita solta entre os desavisados.
O escrito de Rossana Guabiraba, embora tenha o continente rápido como o decurso da doença referida, pontilhada de tanta amargura, possui conteúdo de grande alcance, pelo que deve ser lido e debatido, pois, decerto, vai servir de norte a outros estudiosos que intentem revolver o tema sob ângulos mais diversificados.
A Academia Cearense da Língua Portuguesa externa o profundo pesar de todos os seus membros pelo falecimento, nesta sexta-feira (30/10), do Professor Paulo Bonavides, um dos maiores constitucionalistas brasileiros de todos os tempos. Bonavides ocupava a Cadeira nº 29 da ACLP, agremiação que ajudou a fundar a 28 de outubro de 19977. Também integrava a Academia Cearense de Letras (Cadeira nº 17), assim como inúmeras instituições científicas e culturais de Brasil e do exterior.
O corpo do acadêmico e catedrático de renome internacional será velado amanhã, 31 de outubro, das 9h às 14h30min, no Complexo Velatório Ethernus (Rua Padre Valdevino, 1688 – Aldeota). Seguindo as recomendações de segurança sanitária, o velório terá acesso controlado. O sepultamento, será realizado, em seguida, apenas com a presença de familiares.
VIDA EXEMPLAR
Paulo
Bonavides nasceu a 10 de maio de 1923, em Patos, na Paraíba. Iniciou seus
estudos jurídicos, em 1943, na Faculdade Nacional de
Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se bacharelou em 1948.
Durante a graduação, cursou também a Universidade de Harvard, nos EUA.
Começou sua carreira docente em 1950, como professor de Ensino Médio na
disciplina de Sociologia, no Instituto de Educação Justiniano de Serpa. Nos
anos letivos de 1951 e 1952, foi professor do Seminário Românico da
Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Ingressou na Universidade Federal do
Ceará em 1956, como professor assistente de Introdução à Ciência do Direito.
Dentre os
muitos títulos e honrarias que lhe foram atribuídos, ao longo de sua carreira,
destacam-se: Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará; Doutor Honoris
Causa da Universidade de Lisboa; Professor Visitante nas universidades de
Colônia, Tenessee e Coimbra; Lente no Seminário Românico da Universidade de
Heidelberg; membro correspondente do Instituto de Direito Constitucional e
Político da Universidade Nacional de La Plata, Argentina; membro correspondente
do Grande Colégio de Doutores da Catalunha; membro do Comitê que fundou a
Associação Internacional de Direito Constitucional; membro da Associação
Internacional de Ciência Política da França e da “Internationale Vereinigung für
Rechts und Sozialphilosopie” de Weisbaden, Alemanha; da Academia Brasileira de
Ciências Jurídicas, e do Instituto Ibero-Americano de Direito Constitucional.
“UM EXEMPLO AOS HOMENS DE BEM”
Seguem-se
algumas manifestações sobre essa grande perda para a inteligência brasileira:
José Sarney, ex-Presidente da
República: “O falecimento de Paulo
Bonavides é uma imensa perda para o Ceará e para o Brasil. Grande jurista,
grande historiador, jurisconsulto de fama internacional, Bonavides deixa
valiosos estudos de Direito Constitucional. Ele é o autor, também, de uma obra
extraordinária para todos que querem pensar o País, que são os volumes da ‘História Constitucional do Brasil’e dos ‘Textos Políticos da História do Brasil’, que
permitem a reconstituição documenta da evolução do pensamento político e
constitucional entre os que nos precederam.”
Dias Toffoli, ministro do
STF e coordenador da “Coleção Paulo Bonavides”, da Editora Forense: “Os livros de Paulo Bonavides introduziriam no
país uma série de temas que eram centrais na doutrina alemã e norte-americana,
ajudando a reconstruir o constitucionalismo após 1988. Grande parte da
jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal inspira-se em suas
teorias. Ele foi um jurista que conseguiu concretizar a célebre expressão “o
universal pelo regional”.
Luís Roberto Barroso,
ministro do STF e Presidente do TSE: “Paulo
Bonavides teve um valor inexcedível no cenário brasileiro, do ponto de vista
institucional, teórico e afetivo. Institucional porque, ao lado de José Afonso
da Silva, manteve a chama do constitucionalismo acesa durante a longa noite da
ditadura militar. Teórico porque foi pioneiro na reaproximação entre o Direito
e a Ética, liderando o movimento pós-positivista no Brasil. E afetivo porque
era uma pessoa adorável, generosa e de grande senso de humor. Um ser iluminado.
A partir de agora, brilhará no firmamento.”
Maria Cristina Peduzzi, Presidente
do TST: “A obra de Paulo
Bonavides tem impacto permanente na formação de inúmeras gerações de juristas
brasileiros. Como poucos, soube condensar o espírito do constitucionalismo
nacional, sistematizando argutamente as influências teóricas do direito
brasileiro. O Brasil perde um democrata que descreveu, com precisão, as bases
de sustentação do constitucionalismo nacional.”
Jorge Mussi, Vice-Presidente
do STJ: “Perdemos o nosso maior
constitucionalista. Figura luminar das Ciências Humanas. Pessoa cujo caráter
retemperado pela chama do seu idealismo foi um exemplo aos homens de bem.”
João Otávio
de Noronha, Ministro do STJ: “O
Brasil e o mundo perdem com o falecimento de Bonavides, um gênio do
constitucionalismo moderno”.
Ophir
Cavalcante, ex-Presidente da OAB: “Uma perda irreparável. Um homem simples, humano,
educado, estudioso, enfim, um ser humano que deve servir de exemplo a todos.
Sua obra ultrapassou as fronteiras do Brasil, passando a ser referência no
estudo do Direito Constitucional nas melhores Faculdades de Direito do mundo.
Seu contributo à ciência jurídica é inestimável. Vai o homem, ficam as obras e
o exemplo.”
RITACY DE AZEVEDO TELES, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 23
Surpreendi-me quando abri o portão. As pessoas que vi não
eram os amigos brilhantes que eu esperava para o aniversário do meu primo nem
os dois jornalistas que registrariam o evento nas redes sociais. Eram quatro
desconhecidos: um casal e duas crianças. Eram esquálidos e pareciam sentir
profunda dor e vergonha. Vinham portando sacos e restos de comida e já
cheiravam mal. Talvez tivessem caminhado dias. A princípio, quis lhes dar água
e algum alimento, mas eles me despertaram uma responsabilidade muito maior que
essa, e chamei mamãe para rogar-lhe que os acolhesse.
Depois do aniversário, do qual se mantiveram distantes,
chamei a mulher. Ela me revelou que haviam saído de um sítio após perder as
duas vacas, o boi e algumas ovelhas. Disse que não havia água alguma quando
deixaram sua região e que, após andarem cerca de cem quilômetros, uma das
crianças passara a sentir náuseas e febre. Fora estranho, pois não gripara nem
tivera desarranjo, e o fato é que lá ficara, em cova rasa, com cruz de pau
seco. Foi aí, deixando emergir algo recôndito no ser e normalmente preguiçoso,
um resquício de bondade, que resolvi fazer minha aquela família. Dei-lhe um
espaço em um quarto do quintal, consegui emprego para o pai e para a mãe e
apadrinhei a garota.
Hoje, vinte anos depois de tudo, estamos reunidos em
comemoração. O rapaz comprou um pequeno sítio para os pais, que estão voltando
às suas raízes campestres. Vão, porém, sozinhos. O filho tem atividades na
cidade, pois é engenheiro e cuida de obras na orla marítima. A moça também não
pode acompanhá-los: é a única cardiologista do lugar, há muitos pacientes que
necessitam de sua presença e o interior nada lhe oferece.
Hoje é dia de chorarmos, pois sentiremos saudades de todos.
O casal partirá, e os dois filhos, apesar de estarem por perto, casarse-ão em
breve. Todos foram importantes na minha vida e na de minha família, pois nos
fizeram ver que temos responsabilidades uns pelos outros, que a vida só é plena
se fizermos algo que nos sublime a humanidade.
Você gostou dessa história de destinos, leitor?
Linda, não?! Lindo mesmo seria se esse sonho de bondade se realizasse mais que
uma vez em cem, não é mesmo?! E lindo, lindíssimo, no exagero maior do
superlativo, seria se, nos anseios da mediocridade social, sempre mascarada por
discursos rasos, prescindíssemos das forminhas finais de chantilly, hem?!
VIANNEY MESQUITA, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 37
A sorte serve-se, às vezes, dos nossos defeitos para nos elevar. (FRANÇOIS, Duque de La Rochefoucauld – *Paris, 15.09.1613; +17.03.1680).
“Memória como o único paraíso de onde não se pode ser expulso.”
1 INTRODUÇÃO – Inexistência de Total Saúde
Certamente não assiste razão a quem cogita na noção
de uma humanidade dispensada de toda a doença, na ideal fruição de saúde.
Contrariamente ao pretendido pela OMS
(BUSS, 2000), ao prescrever ausência patológica total e gozo de bem-estar
completo, sempre haverá um senão, seja um ai!
no corpo ou mesmo um ui! na alma.
Normalmente ocorre a afluência dos dois, via de regra multiplicados nos seus
influxos negativos, ao residirem, sem nosso habite-se, tanto em meio corporal quanto no círculo anímico.
Este ponto é objeto de acuradas reflexões por
parte de preclaras autoridades da Ciência Médica e seus esgalhos disciplinares
e afins, merecendo ressalto o psiquiatra e pioneiro da Neurologia, facultativo
estadunidense Walter Riese [Berlin, 30.06.1890; Richmond (Virgínia), 1976].
Em estudo de 1959 – A History of Neurology – como assinala aquele expoente, uma
perfeita higidez física e mental faria menos rica a raça de hoje, porquanto um
imenso campo de atividade lhe seria poupado e recusado. Na intelecção de Riese, uma pessoa idealmente
sã jamais nos ensinaria tudo de sua capacidade, até seu ponto maior de
resistência, quando as moléstias, corpóreas e psíquicas, acham de acometê-la.
Entre vários exemplos reproduzidos pela História,
sob tal aspecto, remeto-me a uma leitura feita na infanto-adolescência (a
propalada aborrecência), salvante
lapso rememorativo, na Nova Seleta,
organizada pelo escritor cratense Romão Filgueiras Sampaio (18.11.1915 –
28.01.1994), sendo oportuno pinçar o caso de Helen Adams Keller (1880-1968), do
qual procederei a relato ligeiro um pouco à frente, cotejando-a com Antônio de
Araújo Costa Filho (2008), cujo Memórias
Esparsas – Flagrantes da Vida Real termino de reler.
2 MEMÓRIA E REGRESSÃO
Aqui, procedo a uma digressão, em expediente mais
parecido com um colchete ou até uma chave. Sem perder, entanto, o liame com as
mencionadas defeituações materiais e da psique, peço a vênia do leitor para compor
parêntese maior, a fim de me reportar à memória,
cuja falta representa manifestação enfermiça peculiar, nas mais das vezes, à
idade cronológica, sendo algo não muito fácil de entendimento, nomeadamente por
parte de leigos nesta seara, conforme sou.
Nem todas as pessoas, evidentemente, são favorecidas
com a propriedade de preservar e trazer à evocação certas situações de
consciência há muito passadas e tudo aquilo quanto a elas está associado. Há
algum tempo, exempli gratia, a pouco
e pouco, me vinha o lapso de memória, o conhecidíssimo branco.
Agora, contudo, ao descer os degraus vitais, em
obediência ao normalíssimo fim organísmico (consoante sucede com o fenômeno do
nascimento) e ao qual a sociedade ocidental ainda não se habituou – me aportam muitas dessas alvurasescurecedoras da lembrança, obstando-me o processamento
dos dados.
Em sentença lapidar, de quando em vez repetida,
Napoleão Bonaparte exprimiu: cabeça sem
memória, cidadela sem guarnição. Entrementes, o escritor alemão, apreciado
produtor do livro Titã e Héspero,
João Paulo Frederico Richter, exprimiu a memória como o único paraíso de onde
não se pode ser expulso.
A vida e a literatura estão, por conseguinte,
pontilhadas de remissões a este conceito, e não somente renomeados autores, em
todas as línguas literárias, registaram suas lembranças e as legaram à posteridade,
pois, mesmo não sendo escritores de ofício, seres dotados desta faculdade, em
quantidade considerável, assinalam, à farta, sua existência por intermédio da
pontoação de suas recordações, editadas em receptáculo de papel e, hoje, em
suportes eletrônicos.
Evocação, porém – é cediço – constitui
circunstância complicada, supondo a manutenção de expressões anteriores, sua reprodução
e revivescimento, bem como a própria localização. A faculdade da lembrança,
decerto, não depende unicamente da mudança de elementos nervosos, mas reclama
ligações dinâmicas entre estes. Assim, quanto mais se repetir a associação de
tais componentes, tanto mais a ideia será preservada.
De tal sorte, este talvez seja o fenômeno
explicativo de serem as evocações mais velhas as derradeiras a aparecer, pela
via fenomênica da regressão, estádios já percorridos pela pessoa em seu desenvolvimento,
em circunstâncias de estresse e experiências de conflitos interiores e
externos.
Evidentemente, por ser fora de propósito, não
alimento a tenção de ensaiar nesta senda na qual sou insipiente, pois
contraposta aos meus assuntos de exame. Nada obsta observar, entretanto, a
necessidade de a imagem recordada se confirmar como algo já conhecido.
3 HELLEN KELLER E COSTA FILHO
Dessa maneira, depois de tergiversar da temática
principal ora sob relato, volto a Helen Keller, fecunda escritora dos EEUU, a
quem um ataque de escarlatina tolheu a visão e subtraiu a audição, quando
contava apenas um ano e sete meses e, no entanto, sob os cuidados de Anne Sullivan
(1866-1936), aprendeu muitas línguas e História Latina, havendo escrito vários
livros da mais distinta verve criadora, pintando paisagens e descrevendo sons.
Com sua força de fé, revelada na autobiografia A História da minha Vida, disse haver criado seu mundo, pois, “[…]
com visão, fiz para mim os dias e as noites, divisando nas nuvens o arco-íris
e, para mim, a própria noite se povoou de estrelas”. (Apud LELLO & LELLO, 1983).
Transpondo, com efeito, todo esse balanço
negativo, Helen Keller demonstrou na doença, imposta como um fado, a possível
vertente perpétua de enriquecimento da Natureza. Daí a opinião de Walter Riese,
há pouco expressa, para quem a noção do homem, do qual moléstia e padecimento
estejam ausentes, será sempre imperfeita.
Ao proceder a um cotejamento de HK com Antônio
de Araújo da Costa Filho, autor de Memórias
Esparsas – Flagrantes da Vida Real (EDUECE-2008), vejo haver sido ele guardado
pelo desvelo de sua família. Enriqueceu-lhe o caráter o fato de haver
sobrelevado as limitações físicas, pois não teve a ventura de, na realidade do
Tio Sam, deparar uma Anne Sullivan a lhe seguir os passos, alumiar-lhe a senda
vital e a ele conceder os favores permitidos a Helen Keller, tornada paradigma
de superação.
4 CONCLUSÃO – A Obra de Costa Filho
Ao considerar os comentários procedidos na
seção imediatamente anterior deste curto escrito, nem por isso, todavia, Antônio de Araújo Costa
Filho deixou de se crer propício à vida, dignitário de sua condição humana,
admiravelmente revelada nos exemplos da peleja, resignação e vitória, bem no
espírito do pensamento de Walter Riese, consoante é expresso no esforço de
açular a memória e ajuntar seus alfarrábios para reuni-los em um volume,
denotativo do seu preparo intelectual, na constância da autodidaxia, sem
ocorrer sub tegmini fagi da escola
formal e com seu ror de limitações.
Autodidata e na solidão de suas faltas
corporais, porém, alcançou mais este galardão, o qual, distante de ser um
triunfo de Pirro, aflui à opinião rieseana, cuja ideia de homem, sem neste
haver doença nem sofrimento, será perpetuamente inexata.
Costa Filho, nesta seleção de muito bem
trabalhados escritos, demonstra, à exuberância, a aptidão humana do
sobrepujamento, malgrado os desprovimentos orgânicos, na conquista de um de
seus anelos desde há muito acalentado, fazendo-o – e isto é o mais relevante –
de modo inteligente, tanto no conteúdo como no formato, legando-nos uma peça
literária e artística de indiscutível valor, produzida no recôndito de seu
corpo fisiologicamente defeituoso, no encoberto de sua alma vizinha da perfeição
e nos escaninhos de um coração referto de amor.
REFERÊNCIAS
BUSS,
Paulo Marchiori. Promoção de Saúde e Qualidade de Vida. Ciência e Saúde Coletiva. V.5.n.1, 2000, pp. 163-77.
COSTA
FILHO, Antônio de Araújo. Memórias
Esparsas – Flagrantes da Vida Real. Fortaleza: Editora da UECE (EDUECE), 2008.
Em Assembleia Geral realizada na noite de quinta-feira, 08/10, em ambiente virtual, a Academia Cearense da Língua Portuguesa elegeu sua Diretoria Executiva para o biênio 2020/2022. Na ocasião, a chapa “ACLP Unida”, liderada pelo acadêmico Marcelo Braga, recebeu o assentimento unânime dos votantes (27 no total).
Após a abertura dos trabalhos, pelo Presidente
Teoberto Landim, foi lida e aprovada a ata da reunião anterior, seguindo-se a
tradicional “Hora do Vernáculo”, em que se discutem temas relacionados à Língua
Portuguesa. A exposição, dessa feita, coube à Profª Ritacy Azevedo, ocupante da
Cadeira 23, que discorreu sobre “Subordinação e coordenação, concessão e
adversidade em coesões intra e interfrasais: uma reflexão”.
Prof. Marcelo Braga é o novo Presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa.
Em seguida, Teoberto Landim passou a
condução dos trabalhos ao Prof. Myrson Lima, que presidiu a Comissão Eleitoral,
integrada, ainda, pelas acadêmicas Regina Barros Leal e Eulália Leurquin. Coube
a Myrson anunciar o resultado da votação, que apontou a totalidade dos
sufrágios favorável à chapa única apresentada. Os votos haviam sido emitidos,
durante todo o dia, por e-mail ou através do WhatsApp.
Proclamado o resultado, o Prof.
Teoberto despediu-se da Presidência externando profundo agradecimento aos
membros de sua Diretoria e a todos os acadêmicos que, ao longo do último
biênio, prestigiaram as reuniões e demais atividades da Academia.
Na condição de ex-Presidente, o
acadêmico Batista de Lima havia sido designado para dar posse, oficialmente, à
nova Diretoria. Em breve mensagem, Batista ressaltou ser aquela a primeira
solenidade de posse em formato remoto vivenciada pela ACLP. Agradeceu à
Comissão Eleitoral por seu brilhante desempenho, desejou êxito à nova gestão e
prestou homenagem a uma série de ilustres acadêmicos já falecidos.
Ao término da Assembleia, já na
condição de Presidente, o Prof. Marcelo Braga dirigiu-se a seus pares,
inicialmente, com palavras de agradecimento. Comprometeu-se a dar continuidade
ao trabalho desenvolvido por seus predecessores no comando da Academia e se
manifestou aberto a sugestões, sendo seu desejo agregar a experiência dos
acadêmicos veteranos. Propôs que se formassem comissões para dar maior celeridade
às tarefas e, por fim, conclamou à unidade, proposta contida no próprio título
da chapa que liderou.
É a seguinte a composição da nova
Diretoria da ACLP:
Presidente – Marcelo Braga
Primeiro-vice-presidente
– Sebastião Teoberto Mourão Landim
Segundo-vice-presidente
– Paulo Sérgio Lobão
Primeiro-secretário
– Francisco Vicente de Paula Júnior
Secundo-secretário
– Maria Margarete Fernandes de Sousa
Primeiro-tesoureiro
– Sebastião Valdemir Mourão
Segundo-tesoureiro
– Ana Vládia Mourão de Oliveira
Diretor de
Publicação e Marketing – Italo Gurgel
Conselho Fiscal –
Ritacy de Azevedo Teles; Maria Gorete Oliveira de Sousa; Antônio Vicente de
Alencar
MARCELO, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 18
Antes de iniciarmos a
análise sobre a possibilidade de se considerar, diferentemente das gramáticas
normativas, o verbo CABER como defectivo, atenhamo-nos à origem da palavra
defectivo.
Defectivo vem do Latim DEFECTIVUS de DEFECTUS (falha, fraqueza) – particípio passado de DEFICERE – DE prefixo (separação) + FACERE (fazer).
De acordo com a Norma, são chamados de defectivos os verbos que não apresentam conjugação completa. Isso ocorre especialmente no presente do indicativo e nos seus derivados: presente do subjuntivo e imperativo. A maioria das gramáticas distribuem os verbos defectivos em três grupos, assim classificados:
1º Grupo – verbos que não apresentam a primeira
pessoa do singular do presente do indicativo como abolir, colorir,
extorquir, explodir…
2º Grupo – verbos conjugados apenas nas formas
arrizotônicas do presente do indicativo na primeira pessoa do plural e na
segunda pessoa do plural como adequar, falir, precaver-se, remir …
3º Grupo – verbos unipessoais e impessoais como miar,
coaxar, chover, trovejar…..
Observação
– alguns gramáticos apresentam os unipessoais e os impessoais como sendo o 1º
grupo.
Exemplo de conjugação dos
defectivos de 1º e 2º Grupos
COLORIR ADEQUAR
COLORIR ADEQUAR
PRES. DO INDIC. PRES. DO SUBJ.
Eu ————– Eu —————-
Tu colores Tu —————–
Ele colore Ele ————— –
Nós colorimos Nós adequamos
Vós coloris Vós adequais
Eles colorem Eles ————-
Por não se ter a
conjugação da primeira pessoa do presente do indicativo dos referidos verbos, não
se tem também a conjugação do presente do subjuntivo, haja vista ser derivado
da primeira pessoa do presente do indicativo.
Quanto ao imperativo, os verbos do primeiro grupo poderão ser conjugados no afirmativo na segunda pessoa do singular tu e na segunda pessoa do plural vós, mas não no negativo, visto que o negativo se conjuga de acordo com o presente do subjuntivo sem a primeira pessoa. Já os verbos do segundo grupo apresentarão a conjugação no imperativo afirmativo apenas da segunda pessoa do plural vós. Assim fica a conjugação:
COLORIR ADEQUAR
IMPERATIVO AFIRMATIVO IMPERATIVO AFIRMATIVO
Colore
tu
Colori vós Adequai vós
Feita essa explanação acerca dos verbos defectivos, poderemos agora entender a defectividade do verbo CABER. Consoante o conceito de defectividade, a Gramática Normativa expõe que os verbos defectivos são aqueles que não apresentam conjugação completa. Essa não conjugação completa se dá por certos motivos como eufonia (colorir), homofonia (falir) e também pela relação semântica do verbo. É exatamente nessa relação semântica que o verbo irregular CABER poderia também ser classificado como defectivo.
O verbo CABER apresenta conjugação completa no presente do indicativo e, consequentemente, no presente do subjuntivo (tempo derivado da primeira pessoa do presente do indicativo). No entanto, não se conjuga no imperativo afirmativo nem no negativo, embora o imperativo afirmativo seja derivado das 2ª pessoas do singular e do plural do presente do indicativo e o imperativo negativo seja conjugado a partir do presente do subjuntivo sem a primeira pessoa. E isso se dá por qual motivo? Na verdade, pela semântica do verbo. Não há como mandar alguém caber em algum lugar, ou suplicar para que alguém caiba em algum lugar. A ausência da conjugação, no referido modo, não ocorre pelo não uso, como acontece, por exemplo, com o verbo PODER, o qual permite o emprego do imperativo pela sua diversidade semântica, mas pela ideia de sentido.
CLAUDER ARCANJO, Membro Correspondente da Academia Cearense da Língua Portuguesa
— Calma! Isso tudo vai passar.
Resolveu, então, ouvi-lo e resistir.
As mazelas do isolamento consumiam-lhe o juízo, mas decidiu se submeter ao
regramento imposto.
&&&
Certa manhã cobrou-lhe resposta,
pálido e com as forças combalidas:
— Passou? Posso sair?
O amigo olhou-lhe com a ternura
dos crédulos e asseverou:
— Logo, logo entraremos num novo
normal. Nada será como antes. O sacrifício valerá a pena.
— …
Conteve o protesto; a engolir,
cuspe amargo da revolta, o que sairia de sua boca após as reticências. E se
enfiou, uma vez mais, na solidão.
&&&
Um ano depois a porta se abriu, e
o seu amigo entrou, a anunciar:
— A cidade está livre! Novos
dias, áureos tempos. Estamos em festa. A partir de agora nada mais será como
antes.
Ele, então, fez a barba, aparou o
bigode, vestiu o seu melhor terno, perfumou-se. Contudo, mal pôs os pés na rua,
concluiu: “Estou de volta ao de sempre”.
O Presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa, Prof. Teoberto Landim, recebeu nesta terça-feira, 15 de setembro, Requerimento no qual o acadêmico Marcelo Braga apresenta a composição completa da chapa “ACLP Unida”, por ele encabeçada, concorrente ao processo seletivo da Diretoria Executiva que conduzirá a entidade no biênio 2020/2022.
É o seguinte, na íntegra, o teor do documento:
REQUERIMENTO PARA O REGISTRO DA CHAPA
Ilmo. Sr. Presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Senhor Presidente,
Eu, Marcelo Braga, nos termos do Edital de Convocação da Eleição, publicado no dia 3/08/2020, conforme disposto em seu Estatuto, artigos 16 e 19, venho REQUERER, no prazo legal, a inscrição e o registro da Chapa ACLP UNIDA para concorrer ao processo seletivo da Diretoria Executiva da ACLP para o biênio 2020 / 2022. A chapa é composta pelos seguintes membros:
Presidente – Marcelo Braga Primeiro-vice-presidente – Sebastião Teoberto Mourão Landim Segundo-vice-presidente – Paulo Sérgio Lobão Primeiro-secretário – Francisco Vicente de Paula Júnior Secundo-secretário – Maria Margarete Fernandes de Sousa Primeiro-tesoureiro – Sebastião Valdemir Mourão Segundo-tesoureiro – Ana Vládia Mourão de Oliveira Diretor de Publicação e Marketing – Italo Gurgel Conselho Fiscal – Ritacy de Azevedo Teles; Maria Gorete Oliveira de Sousa; Antônio Vicente de Alencar
A Academia Cearense da Língua Portuguesa (ACLP) realizou nessa quinta-feira, 3, através de plataforma virtual, sua reunião ordinária do mês de setembro. Na ocasião, foi marcada para o dia 8 de outubro a realização da assembleia geral que elegerá a nova Diretoria da entidade para o biênio administrativo 2020/2022.
Na Hora do Vernáculo, a acadêmica Eulália Leurquin (Cadeira
nº 33) apresentou trabalho de sua autoria e da confreira Margarete Fernandes
(Cadeira nº 13) sobre a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), documento
que define o conjunto de habilidades e competências a serem desenvolvidas por
todo jovem brasileiro ao longo de sua vida escolar.
A BNCC começou a ser discutida em 2015, tendo recebido milhares de
contribuições em consultas e audiências públicas. A sociedade participou com
mais de 12 milhões de contribuições na primeira versão, sendo que metade delas
veio de 45 mil escolas. Em 2016, a segunda versão viajou por todos os estados.
Através de seminários estaduais, cerca de 9 mil pessoas, entre educadores e
alunos, debateram o documento em detalhes. Em abril de 2017, a terceira versão
foi entregue ao Conselho Nacional de Educação (CNE), que ouviu opiniões em uma
nova rodada de seminários regionais. Por fim, em dezembro de 2017, a BNCC foi
homologada pelo MEC e passou a vigorar em todo o Brasil.
Segue-se o texto apresentado ontem pela Profª Eulália Leurquin:
A Base Nacional Comum Curricular: uma reflexão introdutória sobre língua portuguesa
Considerações gerais sobre a Base Nacional
Comum Curricular
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é apresentada
como um documento de caráter normativo. Ela “define o conjunto orgânico e
progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver
ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica”. (BRASIL, 2017, p. 7)
De acordo com esse documento,
a língua portuguesa é um dos componentes curriculares, mas também é o idioma
dos brasileiros. Entender que ela possui dupla função é um avanço significativo
que pode trazer desdobramentos importantes para a sala de aula. Enquanto
idioma, ela é também parte da cultura do povo, identidade linguística do
brasileiro, responsável pelas interações e pela aprendizagem de todos os
componentes curriculares e organizadora do pensamento; representa uma nação e a
nação se representa nela e através dela. Conhecer a língua possibilita lutar, em
melhores condições, pelos direitos. Enquanto um componente curricular, a língua
portuguesa precisa ser aprendida. Talvez, a sua primeira função seja a maior
justificativa para a existência da segunda.
Língua portuguesa faz parte da
área Linguagens e suas tecnologias,
juntamente com os componentes curriculares Arte, Educação Física e Língua
Estrangeira (a língua inglesa). Na apresentação do componente curricular língua
portuguesa, observamos o destaque dado para as práticas de linguagem leitura/escuta,
oralidade, produção de texto e análise linguística/semiótica. Estas práticas de
linguagem estão situadas em contextos sociais, alinhados aos cinco campos de
atuação (Campo da vida cotidiana, Campo artístico-literário, Campo das práticas de estudo e pesquisa, Campo da vida pública e Campo jornalístico-midiático). Nelas, acontecem as interações de onde emergem textos (orais, escritos e
multissemióticos) nos diferentes gêneros textuais.
Ao apresentar este formato de organização das práticas de
linguagem, a BCNN apresenta o texto como a centralidade do ensino e
aprendizagem, ratificando a posição tomada pelos PCN, em 1998. Assumindo tal
posicionamento, o documento expõe
os objetos de conhecimentos e as trezentas e noventa e quatro habilidades que
devem estar alinhadas aos dez objetivos específicos de língua portuguesa. Destacamos
aqui o objetivo que ressalta a concepção de língua adotada neste documento:
Compreender a línguacomo fenômenocultural, histórico, social, variável,
heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de
seus usuários e da comunidade a que pertencem. (BRASIL, 2017, p. 87) (grifos
nossos)
Compreender a língua como um fenômeno mutável, a
depender de seu contexto, e como meio de construção de identidade está
completamente coerente com a proposta de ensino e aprendizagem apresentada a
partir da introdução deste documento. Proposta que está muito bem marcada na
apresentação das práticas de linguagem e alinhada aos demais componentes
constitutivos da BNCC.
O recorte necessário que fazemos, neste momento, mostra
o apagamento do ensino da gramática e
faz sobressair a prática de análise
linguística, terminologia e ação adotadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais
e agora ampliada – Análise linguística/Semiótica. Ao trazer a semiótica para a
discussão, é sugerida uma revisão da própria concepção de texto. O argumento
que dá base a esse posicionamento aponta para o fato de que o ensino da
gramática distante da funcionalidade da língua não contribui para ampliar as
competências comunicativas.
Configuração da prática de linguagem
Analise linguística/Semiótica
A prática de linguagem Análise Linguística/Semiótica se apresenta de
maneira articulada com os dois eixos: Leitura e Produção de texto. Esta articulação
garante que o ensino da língua aconteça de maneira contextualizada, porque a
atividade de Análise Linguística/Semiótica
envolve
os procedimentos e estratégias (meta)cognitivas de análise e avaliação
consciente, durante os processos de leitura e de produção de textos (orais,
escritos e multissemióticos), das materialidades dos textos, responsáveis por
seus efeitos de sentido, seja no que se refere às formas de composição dos
textos, determinadas pelos gêneros (orais, escritos e multissemióticos) e pela
situação de produção, seja no que se refere aos estilos adotados nos textos,
com forte impacto nos efeitos de sentido. (BRASIL, 2017, p. 77).
A partir desse
entendimento, precisamos estar atentos a três orientações:
Formas de
composição dos textos (coesão, coerência e progressão temática e ritmo,
altura, intensidade, clareza de articulação, variedade linguística adotada,
estilização etc. –, assim como os elementos paralinguísticos e cinésicos –
postura, expressão facial, gestualidade etc);
Estilo (léxico
e de variedade linguística ou estilização e alguns mecanismos sintáticos e
morfológicos);
Textos multissemióticos formas de
composição e estilo de cada uma das linguagens que os integram (cor,
plano/ângulo/lado, figura/fundo, profundidade e foco, cor e intensidade nas
imagens visuais estáticas, acrescendo, nas imagens dinâmicas e performances, as
características de montagem, ritmo, tipo de movimento, duração, distribuição no
espaço, etc).
Um outro esclarecimento
relevante feito pela BNCC vai tratar dos conhecimentos grafofônicos,
ortográficos, lexicais, morfológicos, sintáticos, textuais, discursivos,
sociolinguísticos e semióticos. De acordo com as orientações dadas, estes
conhecimentos estão, concomitantemente, sendo construídos a partir das práticas
de Leitura/Escuta e Produção de textos que oportunizam situações de reflexão
sobre a língua e as linguagens
(…) em que essas
descrições, conceitos e regras operam e nas quais serão concomitantemente
construídos: comparação entre definições que permitam observar diferenças de
recortes e ênfases na formulação de conceitos e regras; comparação de diferentes
formas de dizer “a mesma coisa” e análise dos efeitos de sentido que essas
formas podem trazer/ suscitar; exploração dos modos de significar dos
diferentes sistemas semióticos etc. (BRASIL, 2017, 79).
O passo mais adiante do ensino
e aprendizagem da língua portuguesa, quando enfatizamos a Análise linguística/Semiótica, também faz
emergir a necessidade de pensar os campos dos conhecimentos linguísticos e,
assim sendo, ampliar o olhar sobre esta atividade de linguagem. Eles estão
relacionados à ortografia, à pontuação, aos conhecimentos gramaticais
(morfológicos, sintáticos, semânticos), entre outros, e são apresentados de
maneira a articular habilidades, eixos e conhecimentos, conforme podemos
observar no exemplo seguinte.
Exemplo:
Morfosintaxe
• Conhecer as classes de palavras abertas
(substantivos, verbos, adjetivos e advérbios) e fechadas (artigos, numerais,
preposições, conjunções, pronomes) e analisar suas funções
sintático-semânticas nas orações e seu funcionamento (concordância,
regência).
• Perceber o funcionamento das flexões (número,
gênero, tempo, pessoa etc.) de classes gramaticais em orações (concordância).
• Correlacionar as classes de palavras com as
funções sintáticas (sujeito, predicado, objeto, modificador etc.
Como podemos observar, as
articulações entre as práticas de linguagem com os demais elementos
apresentados em nossas reflexões precisam ser feitas. O grande desafio do
professor parece ser, justamente, saber como assegurar as articulações,
mobilizando um saber para ensinar, sem perder de vista as especificidades do
saber ensinar.
Como podemos constatar, há uma
proposta renovada para o ensino e aprendizagem da língua portuguesa desenhada
na BNCC. Ela é ousada, complexa e depende de muitos fatores para que possamos
obter resultados positivos.
Nesta reflexão, optamos por
priorizar a prática de linguagem Análise
linguística/semiótica, sem desmerecer as demais práticas, pois elas precisam
ser refletidas.
A
Secretaria da Academia Cearense da Língua Portuguesa recebeu, nesta
quarta-feira, dia 2 de setembro de 2020, solicitação de registro de chapa para
concorrer ao processo seletivo da Diretoria Executiva que conduzirá a entidade no
biênio administrativo 2020/2022. A chapa “ACLP Unida” está encabeçada pelo
Prof. Marcelo Braga.
A Assembleia Geral para
eleição de nova Diretoria será realizada no mês de outubro, em data a ser definida
amanhã (quinta-feira, 3 de setembro), em reunião virtual marcada para as 20:00h.
Nessa ocasião, o Presidente nomeará uma Comissão composta por três associados
efetivos para dar encaminhamento ao processo eleitoral.
Segue-se
transcrição do Requerimento endereçado hoje ao Presidente Teoberto Landim:
REQUERIMENTO
PARA O REGISTRO DA CHAPA
Ilmo. Sr. Presidente da Academia Cearense da Língua Portuguesa
Senhor Presidente,
Eu,
Marcelo Braga, nos termos do Edital de
Convocação da Eleição, publicado no dia 3/08/2020, conforme disposto em seu
ESTATUTO, artigos 16 e 19, venho REQUERER, no prazo legal, a inscrição e o
registro da Chapa ACLP UNIDA para concorrer ao processo seletivo da Diretoria
Executiva da ACLP para o biênio 2020 / 2022. A chapa é composta pelos seguintes
membros:
Presidente – Marcelo Braga Primeiro-vice-presidente – Sebastião Teoberto Mourão Landim Segundo-vice-presidente – Paulo Sérgio Lobão Primeiro-secretário – Francisco Vicente de Paula Júnior Secundo-secretário – Maria Margarete Fernandes de Sousa Primeiro-tesoureiro – Sebastião Valdemir Mourão Segundo-tesoureiro – Ana Vládia Mourão de Oliveira
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Marjoram and oregano share the genus “originum,” however they are not similar.
Marjoram
Although marjoram is a specific types of oregano, it really is milder. It develops its aroma that is best in hot climates. A kind of marjoram grown in Jordan, Lebanon and Israel is recognized as “zahtar.” Greek legend has it that marjoram, also called joy-of-the-mountain, developed its aroma whenever moved by Venus, the goddess of love. If marjoram expanded on a grave website, it had been thought the nature associated with the dead ended up being calm and delighted. To master the identification of one’s spouse that is future could rest within the existence regarding the natural herb, and also you would dream of the as-yet-unknown love.
Wreaths of marjoram had been utilized to crown newly married people in ancient Greece and Rome to create them love, happiness and honour. It absolutely was likewise found in the Middle Ages, carried at weddings or presented in bouquets. Since it has also been considered to have antiseptic qualities, it had been utilized in the spaces regarding the unwell, and quite often scattered on the flooring at funerals. It was employed for washing as well as in the purification of temples in biblical times. Marjoram had been another witchcraft antidote also. It had been said that “. no individual that has offered by herself towards the devil could abide it,” in accordance with Charles Skinner when you look at the 1915 book “Myths and Legends of plants, woods, Fruits and flowers.”
Marjoram’s medical uses have included ingesting honeyed marjoram tea to protect and bolster the sound; as an answer for snake poison; as a mood stabiliser; as a digestive help; as a toothache remedy, by chewing the leaves; and also as an inhalant in vapor for sinus and laryngitis dilemmas.