ANTÍTESE

ANTÍTESE                      

Os dias sucederam silenciosos, como se partissem e voltassem em surdina

Os longos trajetos sinalizavam o bem e o mal, no curto instante

As nuvens de sombras e claridades adornavam o céu de rosas

Esperançosa, corria sem norte na expectativa circunstante

Do outro lado, o mar de águas valentes soluçava em crespas ondas

À noite, enquanto a lua se vestia de dourado, acinzentava-se de dor

Ali, na profunda fresta de si, olhava para o alto e a fé reacendia em risos

O peito arfava na busca d’alma, sentiu certo temor

As palavras sussurravam imperceptíveis no místico paraíso

Nem sei ao certo o que digo, confusa na chegada e no percurso das partidas

O sol de cachos amarelos encontra a noite adornada com seus véus de prata

E eu, em regozijo pleno, crio raízes na rasa terra de sonhos e ilusões perdidas

Mas ei que vejo os fios de ouro! Eles me ligam ao eterno cosmo

No inefável cenário, desperto e adormeço na atitude grata

Eis, que o dia nasce e envelhece, no diáfano mistério da vida

 

Anotações – Nesse dia em que escrevi o poema, estávamos na Oficina de Poesia, presencial, da Nova Acrópole (NA) numa aula sobre antítese, paradoxo (figuras de linguagem).

 

Três poemas de Gorete Oliveira

GORETE OLIVEIRA, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira nº 1

FLOR DO CERRADO

For do cerrado,
quem te deixou sem namorado?
Quem ainda não te viu, flor do cerrado?
tanto recato dentro do mato!
Quem não te viu não descobriu
quanta poesia se faz de um dia.
Um dia em que sorris despida ao sol,
e um beija-flor aventureiro vem roubar teu cheiro.
Teu vermelho sangra o verde desse mato
como o sangue de donzela o lençol branco.
Tua graça virgem se guarda sob o céu
como lábios de nubente sob o véu.
Ciumento de ti, esse cerrado, teu guardião,
faz de ti seu poema de beleza e solidão.

Brasília, 5 de maio de 2015

AMARELO E AVESSO

Meu amarelo pé-de-chinelo,
Meu brinquedinho de montar,
Boneco de pano e fita;
Por fora é de seda,
Por dentro é de chita.
Meu amarelo polichinelo,
Meu brinquedinho de abrir,
Caixa de segredo tagarela;
Antes era saltimbanco,
Agora banco sem salto.
Meu amarelo violoncelo,
Meu brinquedinho de encaixar,
Arco em corda de violino;
De longe era gigante,
De perto virou menino.
Meu amarelo caramelo,
Meu brinquedinho de exibir,
Alegria de arlequim;
De casca é curto e grosso,
Sem roupa é bala de festim.

Fortaleza, 30 de agosto de 2013.

BURRO QUANDO FOGE

Não sou a negra
Não sou a branca
Minha cor é burro quando foge.
Não sei de bruxaria
Não sei de homilia
Minha fé é artesania.
Não tenho fetiche
Não tenho carisma
Meu encanto é filosofia.

Fortaleza, 25 de setembro de 2014