ACADEMIA CEARENSE DA
LíNGUA PORTUGUESA

dulcisonam et canoram linguam cano

Novo Acordo IX

Frei Hermínio, membro titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa – Cadeira 27

                         Diferenças entre o VOLP de Portugal e o do Brasil (09)

          Os 21 países de habla española têm um Dicionário Oficial, aceito e seguido por todos eles, editado pela RAE = Real Academia Espanhola. Este traz as palavras mais significativas usadas especialmente em cada um dos países do bloco. 

            A partir do II Acordo Ortográfico 1943/1945 existe o VOLP = Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Temos um editado no Brasil (2009) com 877 pp + XCVIII pp de anexos e um em Portugal (2009) com 643 pp com anexos não paginados. Uma comparação da quantidade de palavras contidas nas letras k, w, y dá uma ideia clara desta diferença: VOLP de Portugal nas letras: K, 88 pal. W, 78 pal. Y, 21 palavras. Nós constatamos no VOLP do Brasil nas letras: K, 236 pal. W, 239 pal. Y, 31 palavras. Nestas três letras o VOLP do Brasil tem 319 palavras a mais, do que o de Portugal.

            Usa-se hífen em palavras/locuções compostas que não contêm elementos de ligação… (Cfr. Base XV, 1, a). Os dois VOLP discordam com frequência nesta regra. O VOLP (PT) traz 86 expressões de dois termos, iniciando com “não”, de não-absorvente a não-volátil, todas com o hífen, seguindo a regra. O VOLP (BR) traz 60 expressões de dois termos iniciando com “não”, de não agressão a não vocálico, todas sem o hífen. As expressões inicial e final do VOLP (PT), não constam no VOLP (BR) e neste faltam 26 expressões constantes no VOLP de Portugal.

            Casos semelhantes:

1 – No VOLP (BR) tem mais-valia e não valia; o VOLP (PT) não traz a expressão não valia, mas certamente grafaria não-valia, com hífen, como todas as desta série. No VOLP (BR): fru-fru; xi-xi-xi… no VOLP (PT) elas são grafadas frufru e xixixi. No VOLP (BR) na letra X constam 1049 termos, no VOLP (PT) apenas 766 termos.

2 – No VOLP (BR) consta centroafricano = relativo à República Centro-Africana e centro-africano = relativo à África central. O VOLP (PT) traz apenas centro-africano. Há aí um contrassenso: o termo sem hífen refere-se ao nome com hífen e vice-versa. Conforme a Base XV, 2 deve ser centro-africano, como registra o VOLP (PT). O VOLP (BR) traz grafia única para úmido; o VOLP (PT) traz húmido e úmido. O VOLP (BR) traz zigue-zigue o VOLP (PT) grafa ziguezigue. O VOLP do Brasil traz “imexível” – termo que em 1990 celebrizou o Ministro Antônio Rogério Magri – mas o de Portugal ignora esta palavra.

3 – O VOLP (PT) traz sitiirgia, o do Brasil siti-irgia. As duas formas são inapropriadas. Trata-se da junção de duas palavras gregas, σιτία = alimentos + εἰργία = repulsão. Mais correto seria: sitieirgia ou melhor ainda, siteirgia. Eu me baseio em Ramiz Galvão (op. cit. Postagem 01). Os dicionários: A. Houaiss, Aurélio, A. Nascentes, Álvaro Magalhães, Frei Domingos Vieira, J. Mesquita de Carvalho, Silveira Bueno e Simões da Fonseca, não registram esta palavra. Se eu digo, paraliva e paravário, você terá dificuldade de compreender, mas se eu digo, paraoliva e paraovário, você compreende logo. Por isso, a palavra paralímpico – que nos teria sido imposta pelo COI em 2016 – para substituir paraolímpico, dói em nossos ouvidos. É técnica e sábia a norma de que na junção de dois termos haja mudança somente no 1° termo, do contrário, a compreensão torna-se difícil.

            Seria enfadonho multiplicar os exemplos: A confusão entre os VOLP do Brasil e o de Portugal é tamanha, que até nos faz lembrar o texto de Sérgio Porto:    “O Samba do louro doido”.

  E-mail para observações: freiherkol@yahoo.com.br

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